Trabalhando para uma neutralidade climática

Recebi hoje no trabalho um questionário que todos os funcionários do bureau devem responder sobre o trajeto percorrido de/para casa/trabalho. O objetivo é sumarizar as informações como o meio de transporte utilizado, a freqüência e a distância percorrida de/para casa/trabalho de todos os funcionários e assim poder estimar o quanto de emissão de gases de efeito estufa são gerados por nós em função do trabalho.

Ano passado, pela primeira vez com o resultado deste questionário e com o suporte do UNEP, o Programa de Meio-Ambiente das Nações Unidas (United Nations Environment Programme), foi possível identificar que em 2008 o bureau produziu emissões totalizando 1500 milhões de toneladas ao equivalente de gás carbônico, aproximadamente o equivalente à emissão anual gerada por 100 famílias suíças. E como o bureau continua empenhado em contribuir como puder para uma neutralidade climática e fazer da gente exemplos de funcionários engajados em esforços em prol do meio-ambiente, colocaram uma meta de redução de 20% de emissão de gás carbônico até 2012, e a responsabilidade pro nosso lado. Assim, voilá de novo o tal questionário.

Eu não sou muito entendida do assunto, mas é fato que o excesso de emissão de gás carbônico, um dos gases do efeito estufa, contribui para o aquecimento do planeta, e daí todos aqueles problemas e resultados que vimos, discutimos e sentimos ultimamente. De vez em quando vejo as notícias e lembro de reportagens recentes sobre o grande aumento na quantidade gás carbônico emitido nos EUA, dicas para como ajudar a diminuir a concentração de CO2 e melhorar o ar do planeta e tudo mais. Mas confesso que nunca mexi um dedo por isso porque não via nada ao meu alcance.

Até hoje.

Aqui na Suíça, e acredito que não só aqui, mas na Europa toda, é comum trabalhar numa cidade e morar noutra. As cidades são tão próximas e as condições de transporte são tão fáceis que não tem nada demais em morar em Berna e trabalhar em Zurique ou em Lausanne. Ou você mantém um apê temporário lá, ou faz um passe de trem especial e vem e volta todo dia, ou vai de carro, sei lá.

Hoje nesse questionário do trabalho, as perguntas eram assim:

- Em qual cidade você passa a semana?
- Em qual cidade você passa o fim de semana?
- Que meio de transporte você usa para ir e voltar do bureau?
- Qual a distância de cada viagem?
- Quantas vezes por semana você faz esta viagem?
- Se você faz esta viagem em um carro ou meio de transporte de duas rodas, especifique.
- Se você compartilha o carro com outras pessoas, especifique quantas.

Meu Deus... aí me caiu a ficha. Ora, veja bem.. Eu moro na rua do lado da rua do trabalho, ando cinco minutos e estou no trabalho, são uns... 800 metros!!! Isto porque tenho que arrodear o prédio, pois a porta é no lado contrário que eu chego. Respondendo o questionário, percebi que ando em média 3,2km por dia, pois normalmente vou em casa na hora do almoço para andar com Juca, tirar roupa da lavanderia, resolver qualquer coisa ali perto, andar um pouco, respirar um pouco de ar fresco, comprar comida na Coop ou só pra sair do ambiente escritório e esticar as pernas mesmo. Isso dá uns 20km por semana, só dia de semana lá e cá. Sou a funcionária perfeita exemplo modelo para a neutralidade climática!! Não tenho carro, nem tram eu pego pra ir trabalhar, nem bicicleta!! Se eu for de bicicleta pro trabalho, é melhor dar uma voltinha no parque Elfenau antes pra valer mais a pena, senão dá mais trabalho tirar a bicicleta do prédio do que de andar pra chegar ao trabalho com ela de fato.

Por vezes achei que tinha feito a escolha errada em ter escolhido este apartamento e morar tão perto do trabalho. As pessoas me chamavam de louca, elas queriam o oposto, morar o mais longe do trabalho possível! Eu toda inocente... mas é que quando cheguei aqui não sabia andar na cidade, não conhecia os bairros e não queria fazer nada pra me arrepender depois, que fosse difícil de reverter. Como tava louca pra ter logo meu canto, decidi tentar arrumar um apê perto do trabalho, e consegui. Há várias vantagens de morar perto do trabalho, mas às vezes ficava encucada se tinha feito a escolha certa, pois passou a parecer qualidade de vida demais, às vezes sentia falta de passar um aperreiozinho até chegar em casa, trem cheio, trem atrasado, chuva, gente pisando no meu pé, coisa assim, sei lá. Depois de anos trabalhando no Recife Antigo, estudando no centro do Recife e vivendo todo dia o medo e a apreensão no caminho de/pra casa trancada no meu carro com vidros escuros, deve ser normal mesmo essa "dificuldade" de aceitar tanta perfeição que tô vivendo atualmente. Aí hoje desencanei, era a desculpa o motivo que eu precisava para parar com essas nóias e viver bem com a minha escolha e minha qualidade de vida. Agora estou certa que é isto! Além de tudo, estou fazendo minha parte! Não emito nadica de nada no meu dia a dia pro aquecimento do planeta! E cá pra nós, é uma maravilha não ter que gastar dinheiro com passe e demorar quarenta minutos pra chegar em casa.

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